O SILENCIAR DE UM RUGIDO

Quando foi idealizado por Simões Filho, o A TARDE se propunha a ser imparcial, sem ser indiferente aos embates de direito; neutro, mas sem se esquivar das controvérsias partidárias quando interessassem ao bem coletivo; ponderado, não provocando rixas pessoais, nem sujar a honra alheia, mas também não cederia um espaço à reação enérgica e viril. Todavia, quando o golpe militar de 1964 se apoderou do Brasil, o jornal passou a não divulgar os assuntos de interesse da população baiana, os embates dos estudantes que naquela época brigavam pelo direito à liberdade de expressão. A violência contra a classe estudantil ocorria sem que uma reportagem repercutisse os fatos. Ao contrário, o vespertino passou a divulgar os informativos do novo regime em suas páginas. Sabe-se que uma opção como esta foi a alternativa (talvez a única) de muitos veículos de comunicação para sobreviver durante os sombrios anos da ditadura militar, sem ser importunados pelos órgãos repressores. Porém, quando o A TARDE deixou de noticiar a perseguição às entidades operárias e estudantis e a situação que o povo baiano vivia naqueles anos, em detrimento das matérias que tratavam sobre os benefícios da modernização econômica advindos das decisões dos generais, o jornal serviu como ponte para a que os militares propagassem seus simbolismos dentro da Bahia.

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