A GLOBO E A COBERTURA DAS DIRETAS JÁ

Em 1983, ainda sob o Regime Militar, diversos setores da sociedade brasileira se mobilizavam pela aprovação da emenda à Constituição, criada pelo então deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT), que buscava garantir à população o direito ao voto para Presidente da República. Em várias cidades e capitais do país ocorriam comícios organizados por partidos oposicionistas, intelectuais e artistas, em que reuniam milhares de pessoas impulsionadas pela vontade de exercer plenamente a cidadania. Enquanto a mídia impressa e rádios já destacavam esta reação do povo contra o regime autoritário, a Globo não cobria o fato com a devida importância que ele apresentava. As primeiras reportagens citando os comícios pelas Diretas Já mostravam apenas o comportamento das pessoas chegando à espera do que seria “somente” um concerto musical em praça pública. Na época, a emissora se defendia que “não poderia mostrar em rede nacional a mobilização popular porque temia que uma ampla cobertura da TV pudesse se tornar um fator de inquietação nacional [...] Mas a paixão nacional foi tamanha que resolvemos tratar o assunto em rede nacional”. (palavras de Roberto Marinho). Mas era isso justamente o que o povo esperava de uma televisão com a maior audiência no país. Hoje, já vivendo 23 anos de redemocratização, perguntamos se toda aquela prudência (ou silêncio) com relação à cobertura das Diretas Já pela Rede Globo não foi por medo das retaliações dos generais, medo de perder a concessão, ou verdadeiramente terá sido a audiência que estava sendo perdida para outros veículos de comunicação na cobertura daquele evento tão importante para o país? O que estava em jogo: interesses empresariais, medo da censura ou a luta pela audiência? A resposta? Deixamos para os leitores fazerem uma reflexão.

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